Durante o evento, a presidenta Dilma exaltou a busca pela
celeridade processual, a manutenção do amplo direito de defesa. Segundo ela,
com o parcelamento, ou gratuidade das desepesas judiciais, há um aumento do
acesso à Justiça.
"Mais Justiça para todos num país que vem se tornando
mais justo e menos desigual para todo mundo, é algo essencial. Este novo Código
se identifica com as demandas de um novo país, que passou a ter nas últimas
décadas um povo mais exigente, mais ciente de seus direitos", afirmou
Dilma.
A presidenta também agradeceu a "colaboração de
advogados, de juristas e da sociedade civil" e afirmou que essa intensa
participação fez nascer um texto moderno e coerente.
"Essa decisão e essa iniciativa prolongaram intensos e
frutíferos debates. Ao propiciar a atuação conjunta dos três poderes, resultou
num texto final com elevada margem de consenso", disse Dilma.
Além da presidenta, também discursaram Paulo Teixeira, que
foi relator do Código de Processo Civil na Câmara dos Deputados; o ministro do
Tribunal da Contas da União Vital do Rêgo, que também foi relator do projeto no
Senado; o ministro do Supermo Tribunal Federal Luiz Fux, que é presidente da
comissão de juristas; e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Paulo Teixeira ressaltou o fato de esse ser o primeiro
Código de Processo Civil aprovado em período democrático e lembrou os projetos
anteriores, de 1939 (Estado Novo, ditadura de Getúlio vargas) e 1973 (Ditadura
militar que perdurou até 1985).
Em seu discurso, o deputado citou as solicitações pela volta
da Ditadura militar, realizadas durante as manifestações do último domingo
(15), e classificou o ato como "inadmissível".
Teixeira disse ainda que "o Judiciário não pode ser
mais o locus do atraso" e afirmou que a partir de agora, será vista
"uma nova forma de resolver os conflitos no Brasil, com mediação e
conciliação".
Já Vital do Rêgo citou as deficiências dos antigos códigos
(1939 e 1973) e também exaltou o fato de o novo Código ser o primeiro elaborado
em período democrático.
Segundo ele, o CPC é um "monumento legal" e foi
escrito por todos os setores da sociedade civil. Rêgo citou algumas das
melhorias, como a contabilização de prazos processuais em dias úteis e o
recesso para descanso dos juristas. "Estamos diante de uma obra de toda
nação brasileira, colorida pela Constituição Cidadã", afirmou.
Ao tomar a palavra, Luiz Fux exaltou o fato de que 80% das
sugestões da sociedade foram acolhidas e citou que o judiciário se sentia
impedido de apresentar uma justiça ágil. "É um código da sociedade
brasileira, nós ouvimos todos os segmentos", disse.
De acordo com o ministro do Supremo trbunal Federal, entre
os problemas enfrentados pelos juristas, estão o excesso de formalidades e
recursos. Fux afirmou que a elaboração do novo CPC priorizou o direito à ampla
defesa e buscou evitar que o recurso se torne "uma aventura
judicial".
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ressaltou o
fato de que, assim como a vida, a legislação também deve sofrer ajustes.
Segundo ele, "temos hoje um código equilibrado", que balanceia a
celeridade processual e o amplo direito de defesa.
Manifestações populares e reforma política
Ainda em seu discurso, a presidenta exaltou as manifestações
populares e reafirmou o direito democrático desses eventos. "Assim como as
urnas traduzem a vontade da nação, as ruas são o espaço legítimo da
manifestação popular pacífica, em todos os seus matizes e em todas as suas
tendências. Por isso, o governo ouve e continuará ouvindo as manifestações das
ruas", disse.
Ao citar as manifestações, Dilma lembrou que a população
clama pelo combate à corrupção e informou que o governo federal irá apresentar
medidas de combate a essas práticas.
"Nos próximos dias, como prometido nas eleições,
anunciaremos um conjunto de medidas voltadas ao combate à corrupção e à
impunidade. Estaremos abertos, obviamente, a ouvir toda a sociedade para a
tomada de outras medidas", afirmou a presidenta.
Dilma também mencionou que os acontecimentos dos últimos
anos apontam para a necessidade de uma ampla reforma política e reafirmou achar
fundamental o fim do financiamento empresarial para as eleições.
"Precisamos alterar as bases do nosso atual sistema
político que, além de anacrônico, é uma das principais causas geradoras da
corrupção no País", afirmou.
Crise econômica internacional
Dilma reafirmou que seu "governo tem responsabilidade
com a estabilidade da economia" e detalhou as medidas tomadas nos últimos
anos para amenizar os efeitos da crise econômica interncional não afetassem o
Brasil.
De acordo com a presidenta, as medidas tomadas (desoneração
de impostos e subvenções e subsídios econômicos) se esgotaram. "Agora, não
existem mais recursos para continuarmos fazendo isso. Precisamos fazer ajustes
e correções para continuar crescendo", afirmou.
"Faremos os ajustes necessários, dialogando com todos,
mas não tenham dúvida que eles serão realizados na defesa de todos os
brasileiros", disse Dilma.
Redemocratização
Ao fim de seu discurso, a presidenta Dilma comemorou os 30
anos da redemocratização e prestou homenagem aos que lutaram contra o regime de
exceção e lembrou das perseguições, prisões e torturas a que foi submetida.
"Meu tributo aos que contribuíram para o
restabelecimento das liberdades democráticas é amplo, franco e não faz
distinções: agradeço à OAB, aos juristas, aos acadêmicos, aos intelectuais, aos
artistas, aos religiosos, aos movimentos sociais, aos militantes dos partidos
políticos legais e das organizações proscritas pela repressão", disse a
presidenta.
"Muitos da minha geração deram a vida para que o povo
pudesse, enfim, ir às ruas para se expressar. Ontem, quando vi centenas de
milhares de cidadãs e cidadãos se manifestando pelas ruas de várias cidades
brasileiras, não pude deixar de pensar: valeu a pena lutar pela liberdade,
valeu a pena lutar pela democracia", finalizou Dilma.
Confira os principais pontos do novo Código de Processo
Civil:
Agilidade
Causas repetidas: Ações judiciais com o mesmo objetivo
poderão ser julgadas de uma única vez por um tribunal, que mandará aplicar a
decisão para todos os casos.
O instrumento de resolução de demandas repetitivas trará
rapidez para milhares de ações iguais contra bancos, concessionárias de
serviços públicos (luz e telefonia), Previdência e FGTS.
Limites aos recursos: Para evitar que os recursos continuem
sendo instrumentos para adiar o fim dos processos, com o propósito de retardar
pagamentos ou cumprimento de outras obrigações, o novo CPC extingue alguns
desses mecanismos, limita outros e encarece a fase recursal (haverá pagamento
de honorário também nessa etapa, além de multas quando a parte recorrer apenas
para atrasar a decisão).
Transparência
As ações serão julgadas em ordem cronológica de conclusão,
ressalvados os atos urgentes e as preferências legais, ficando a lista de
processos disponível para consulta pública. Os juízes serão ainda obrigados a
detalhar os motivos de suas decisões, não bastando transcrever a legislação que
dá suporte à sentença.
Menos conflitos
As pessoas serão chamadas pela Justiça para participar de
audiências prévias para tentar acordo. Para isso, os tribunais serão obrigados
a criar centros judiciários de conciliação e mediação, com profissionais
especializados.
De modo geral, também poderá haver acordo sobre
procedimentos do processo, como a definição de calendário ou a contratação de
perícia.
Ações de família
Acordo: o juiz deverá dispor do auxílio de profissionais de
outras áreas para facilitar ao máximo a conciliação em processos de divórcio,
filiação, guarda de filhos e outros temas de família. A audiência se dividirá
em quantas sessões forem necessárias para viabilizar o consenso, sem se afastar
as providências para evitar a perda de direitos.
Abuso: em casos relacionados a abuso ou alienação parental,
a presença de especialista na tomada de depoimento da criança ou incapaz passa
a ser obrigatória.
Prisão: é mantida a prisão fechada para o devedor de pensão,
mas agora com a garantia de que ficará separado dos presos comuns.
Garantia para credores
Fica mantida a regra atual que permite o bloqueio e penhora
antecipada (antes da sentença) de dinheiro, aplicações recursos e outros bens
do devedor, para assegurar o pagamento de crédito de terceiros.
A novidade é que, para garantir a execução da sentença, o
juiz poderá determinar a inclusão do nome do devedor em cadastros de
inadimplentes.
Reflexos nas empresas
Personalidade Jurídica: o novo Código definirá procedimentos
para a desconsideração da personalidade jurídica das sociedades, medida que
pode ser adotada em casos de abusos e fraudes.
Assim, os administradores e sócios respondem com seus bens
pelos prejuízos. Hoje os juízes se valem de orientações jurisprudenciais ainda
consideradas incompletos.
Intervenção: Saiu do texto final, em último momento, regra
que atribuía aos juízes poder para determinar a intervenção judicial em
empresas, para fazer valer uma sentença com obrigação a cumprir.
Conquistas para advogados
Honorários: os advogados públicos poderão receber, além do
salário, honorários quando obtiverem sucesso nas causas. Lei futura definirá
condições e forma de pagamento.
Já os advogados liberais, nas ações vencidas contra a Fazenda
Pública, agora terão tabela de honorários de acordo com faixas sobre o valor da
condenação ou do proveito econômico. Os honorários também serão pagos na fase
dos recursos.
Descanso anual: Para que os advogados tenham férias e não
percam prazos, os processos ficam suspensos entre 20 de dezembro e 20 de
janeiro.
Nesse período também não haverá audiências nem julgamentos, sendo mantidas
demais atividades exercidas por juízes, membros do Ministério Público, da
Defensoria Pública e da Advocacia Pública, além dos serviços dos auxiliares da
Justiça.
Participação social
Será regulamentada a intervenção do amicus curiae em causas
controversas e relevantes, para colaborar com sua experiência na matéria em
análise, em defesa de interesse institucional público.
Poderá ser uma pessoa, órgão ou entidade que detenha
conhecimento ou representatividade na discussão. A participação poderá ser
solicitada pelo juiz ou relator ou ser por eles admitida, a partir de pedido
das partes ou mesmo de quem deseja se manifestar.
Fonte: Portal Brasil, com informações da Agência Senado
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